Dia do teólogo (Pequenas reflexões - Parte I)



Sempre me esqueço e sou lembrada do dia de hoje, dia da teóloga. 

Dia este que cada ano sei menos o que é.
 
Afinal, encontrei esse grafitti na rua nesses dias e me respondi que talvez o maior papel da teóloga seja a escuta, a escuta de silêncios, de lugares improváveis, de lugares que não são nossos.
Nós falamos na psicologia que a grande diferença entre uma escuta do bar e a escuta psicológica é porque nosso arcabouço nos faz perceber e pontuar coisas que a própria pessoa traz, sendo bem longe do que muitas vezes chamamos de aconselhamento. Não temos uma fórmula de solução para as pessoas. Temos ciência e conhecimento e aplicamos ao que ouvimos.

E suspeito que o trabalho da pessoa que ama a teologia é esse. Nos termos da teologia da libertação "ver, julgar e agir". Mas acho que só ver não é suficiente. Talvez nem só ouvir seja suficiente, porém ouvir olhando para nosso arcabouço nos faz que emerja o que ousadamente poderia ser a Teologia. Não o falar de Deus, não o ver Deus, mas o ouvir Deus no povo e nos deixar brotar.

Acho que uma boa analogia, apesar de incompleta, é a escuta psicanalítica. Ela pressupõe uma atenção geral, flutuante, em toda a fala até que alguma hora - PAM! - algo emergiu. Pode ser por palavras repetidas, por um gesto, entonação, mas chama a atenção. E você, que está com a atenção flutuante e com um bom arcabouço, diz "eu acho que peguei algo". No caso analítico você pode fazer interpretação. Se for fenomenológico, você aponta o fenômeno para o outro se entender. Se for outra linha, como as comportamentais, esse pode ser o sintoma chave para todo o seu trabalho.

A teologia é bem assim. Podemos interpretar, apontar o fenômeno, trabalhar com um sintoma do campo e, enfim, pensarmos o que fazer com a escuta. Mas cada vez menos penso em escrever teologia. Eu me vejo meio fenomenóloga, não tenho jeito para criar e arriscar novas leituras. Nem propor a solução do mundo sou capaz. Só quero ouvir e jogar para os outros me darem a solução. Que minha escuta, embasada, seja o start que ajude alguém a fazer a própria teologia, o próprio agir.

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