Pregação: sobre amor e apatia


Moltmann em “paixão pela vida”
Primeiro texto:
Apatia, originalmente, significava “ausência de sofrimento”. Os povos antigos consideravam-na a mais alta virtude dos deuses e dos homens. Acreditavam que Deus era bom sem qualquer participação no mal. Era perfeito. Não podia sofrer. Era eterno. Não morreria jamais. Era auto-suficiente. Dispensava amigos. Deus, então, na sua plenitude não podia sofrer, caracterizando-se pela suprema apatia. Estava acima de necessidades e impulsos. Acreditavam eles que a felicidade não se definia pela realização dos desejos. Bem ao contrário, era alcançada pelo abandono do que mais ardentemente queremos. Daí a importância de uma vida sem paixão, sem explosão de raiva, mas também sem amor. A verdadeira felicidade pairava acima do sofrimento e da alegria. Os que quisessem alcançar a divindade e a liberdade, ao mesmo tempo, deveriam vencer os desejos, dominar os impulsos e cultivar a apatia.
(...)
Em discursões religiosas, até mesmo entre os cristãos, podemos ouvir frases como estas “Deus não pode sofrer”, “Deus não pode morrer”, “Deus não tem necessidades”, “Deus não precisa de amigos”. Tenho pena dos que pensam dessa forma, porque transformam o Deus vivo num ídolo morto, um ídolo do seu próprio medo da vida.
O Deus de que fala os homens do Antigo testamento, baseado nas próprias experiências, não é um poder frio e silencioso, no céu, que permanece, auto-suficiente, distribuindo graciosamente esmolas aos súditos. É, bem ao contrário, o Deus apaixonadamente envolvido com a criação, com os homens e com o futuro. Sentimos sua presença no patético expresso em seu amor pela liberdade e no interesse apaixonado pela vida contra a morte. Foi por isso que esse Deus entrou numa aliança com os homens, muito semelhante ao casamento, como relata o Antigo Testamento. Tornou-se vulnerável ao amor. Quando Israel o abandonou e se deixou levar pelos ídolos, sua paixão pela liberdade desse povo fê-lo sofrer. Caminhou ao lado de Israel na direção do exílio, participando de seu sofrimento. Irou-se por causa dos pecados incoerentes do povo. Mas seu desgosto expressava apenas o amor ferido, nada mais.
Quem vive em comunhão com este Deus apaixonado não pode permanecer apático. Determina-se por ele. Sofre com o sofrimento de Deus no mundo, alegra-se com suas alegrias. Unindo-se ao amor de Deus, participa intensamente desses sentimentos. Lembro-me que há alguns anos eu achava esta imagem de Deus demasiadamente humana e até mesmo infantil. Não conseguia entender um Deus que esbravejava de raiva e se mostrava ciumento, ardendo de amor ou se decepcionando. Parecia-me, então, que o Deus dos filósofos estava mais perto da verdade, abstrato e isento de qualquer imagem humana. Entretanto, quanto mais percebo a ação destruidora da abstração sobre a vida, tanto mais entendo o Deus do Antigo Testamento com imensa paixão e dor a transpassar-lhe o coração. Muito me impressionou ouvir alguns judeus a afirmação de que o verdadeiro sofrimento na experiência de Israel perseguido seria o sofrimento de Deus. Deus, pois, sofreu com Israel. Acompanhou o povo no caminho para o Egito; esteve nos campos de concentração, nas câmaras de gás, na morte. Com esta fé o povo foi salvo de auto-destruição  adaptando-se, sempre, às novas situações. Quem descobre na profundidade do próprio sofrimento o sofrimento de Deus, não pode permanecer apático. Resiste e espera. Seu pequeno sofrimento acha sentido no imenso sofrimento de Deus em favor de um mundo livre e salvo.
No centro do Novo Testamento acha-se a história do sofrimento de Cristo. Não a entenderemos se a interpretarmos apenas como um relato a mais na longa história de sofrimentos humanos. Somente a entenderemos na paixão que a tornou possível. Na paixão de Cristo, a paixão de Deus confunde-se com a nossa. Nela eu sinto o amor de Deus e as dores do meu próprio corpo.
Que tem de especial a vida de Jesus? Por que nos chama a atenção? Acredito que somos envolvidos muito mais pela sua grande paixão do que mesmo pelas narrativas de milagres. Que paixão? Não se trata de meros desejos da alma por uma vida sem dores no céu nem de um amor pelo Reino de Deus no além, nem ainda a aspiração pela permanência da vida depois da morte, mas, isso sim, da vontade de viver a plenitude da vida mesmo antes da morte, até mesmo contra a morte que transborda da vida de Jesus. A vida se faz presente onde os doentes são curados, os leprosos aceitos e os pecadores perdoados. Essa vida divina liberta, salva e faz-se presente hoje em nosso meio. (...) Em Jesus encontramos vida. (...) Nessa paixão pela vida vê-se a paixão do próprio Deus, inimigo da morte que deseja a vida e a liberdade, e rejeita a escravidão. A paixão que quer o amor e desconhece a apatia."
·         - oração.
·         A alegria da salvação! A lembrança do grande amor! Todos nós temos pelo menos uma experiência que nós podemos falar de muito marcantes com Deus. Mas porque será que não vivemos algumas dessas grandes experiências mais com Deus? São muitos os motivos, alguns a gente já viu em cultos e em escola dominical, como falta de obediência, falta de fé etc. Por que a gente não consegue as vezes viver essa alegria, paixão, essa profundidade de como era nosso primeiro amor? Assim, minha reflexão será em cima do salmo 126.
·         Leitura do salmo inteiro.
o   Tem muitas formas de interpretar esse texto. Trata-se de um salmo não davídico, tratando do retorno de um exílio, provavelmente babilônico.
o   Esse salmo normalmente é dividido em duas ou três partes. Quando dividida em duas, é a alegria do retorno e a súplica por aqueles que não que não voltaram do cativeiro., indo de 1-3 e 4-6. Algumas bíblias são até divididas assim.  Outra divisão separa de 1-3 – como um cântico de restauração, coloca o 4 como uma súplica e o 5-6 como um cântico comum dos fazendeiros em época de fertilidade. Eu, porém, vou dividir em dois e eu vou propor duas formas de olhar o texto e como ele responde a dois erros que nós fazemos
·         Um dos nossos erros é não reconhecer a mão de Deus em nossa vida.
o   Como o texto do Moltmann falou, achamos que Deus está distante mais do que estamos vivendo. As vezes até queremos fazer o bem, algo que é da vontade dele, mas fazemos pelos motivos errados, para nos sustar de uma certa “culpa social”. Ou mesmo nem isso, achar que Deus está lá e nada tem a ver com o nossas vitórias e derrotas. A gente não faz as coisas porque somos profundamente apaixonadas por Deus, mas porque achamos que é necessário ser bonzinho.
o   O papa Francisco num discurso do vaticano no dia que foi anunciada a Jornada Mundial da Juventude falou uma coisa que foi muito marcante. Ele falou que a igreja não é uma ONG, é uma história profunda de amor. É um corpo, é a expressão viva de Deus, é paixão que vem de Cristo.
o   E isso vemos no início do salmo 126:
o   Quando o senhor restaurou a sorte de sião, ficamos quem sonha
§  Perceba: O sonho surge a partir da benção do Senhor. É a alegria da salvação. Tente SEMPRE lembrar de quando você se converteu.
o   Então nossa boca se encheu de riso e o nossa língua, de júbilo.
§  São sinais de louvor, de reconhecimento. Júbilo é um termo usado para exaltação e que muitas vezes é usada é em textos proféticos, referentes a alegria da restauração do mundo. É uma total confiança e paixão por Deus. E isso só acontece quando estamos intimamente conectados com a paixão de Deus. Você sabe pelo mens uma característica boa de Deus. Diga umas dez agora.
o   Então entre as nações se dizia: Grande coisas o Senhor tem feito por eles. Com efeito, grande coisas fez o senhor por nós, por isso, estamos alegres.
§  O amor, a paixão, a alegria são contagiantes, assim como a gratidão. Quando a gente realmente vê o tamanho do amor, do cuidado, da misericórdia de Deus é quase que espontâneo que a gente transborda. Quando falamos claramente para as pessoas que o que somos de bom não é porque nós somos bons, somos orgânicos, somos engajados, mas porque temos o poder de Deus, as coisas ganham outra dimensão e sentido, não só para gente. Esse texto mostra, mas para aqueles que estão a nossa volta.
o   Então: para nossa ingratidão: perceba a fonte de onde vem todas essas bênçãos;  adore mais e se alegre mais no que é do Senhor; dê crédito ao Senhor daquilo que é dele. Ele se agrada assim. Se deixe alegrar, de forma ingênua, no presente que você recebeu.
·         Outro ponto que é achar que sua vida espiritual já perdeu aquele vigor que um dia vc já teve, já fez muita coisa para ele e você não tem mais o mesmo amor. As vezes perde o sentido, fica morno.
o   Sobre espiritualidade morna, sabemos:
§  “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.” Apocalipse 3:15-16
o   Como vimos com o Moltmann, apatia não combina com Deus de amor.
o   Mas sabemos aqui, muitos aqui tem relações longas. Quem aqui tem uma relação de pelo menos 2 anos? 4 anos? 6? 8? 10? É fácil chegar na mesmice, não? E de fato, as vezes é dificil.
o   E como a gente resolve isso? O salmo 126 nos ajuda a lidar.
o   Traze-nos outra vez, ó Senhor, do cativeiro, como as correntes das águas no sul. Ou neguebe
o   O uso simbólico de bgN, encontrado mais freqüentemente nos profetas, está conectado ao fato de ser uma região árida e rude no sul. Isaias apresentou o Neguev como uma terra temerosa, descrevendo-a como uma “terra de horror” e simbolizando a origem de violentas tempestades. Tão desprovido de água era o Neguev que a rara chuva era usada como uma figura de descanso por parte de YHWH, conf. VanGemeren, W. A., (126:4).
o   A torrente é a única esperança no deserto. Então esse texto fala da importância de clamar. “Olha Deus, é deserto, to cativo, não consigo. Me ajude mesmo”. Ler salmo 51.10-12
o   Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.
Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito.
Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer.
o   Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria.
Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.
o   Por fim, tentar mesmo sem conseguir. Disciplina, se forçar mesmo. Aqui nós vemos algumas qualidades cristãs: a esperança, a longaminidade, persistência. Em nenhum momento salmista fala que enquanto for colher vai parar de chorar. Não, é dificil mesmo. A gente lida muito mal com momentos ruins no geral. Nessas horas a gente não tem que se forçar a ficar bem. As vezes vai ter que viver sofrendo mesmo, seja com um sofrimento especifico, um luto ou mesmo se for uma doença, como uma depressão. Mas o importante é não parar por isso. Deus está vendo e ele pode restaurar sua sorte.
o   Dois aprendizados então: Oração de ajuda, tentar mesmo assim.
o   4 aprendizados totais:
§  Saber que só temos o que temos por benção,
§  Louvar muito, lembrar muitas características boas de Deus.
§  Dê credito a Deus pelo que faz para você com os outros
§  Ore quando não achar que consegue
Deus nos abençoe

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