Você já viu The OA?


(Porei aviso quando começar o spoiler)

Recebi uma recomendação de que eu deveria fazer um texto sobre The OA aqui para o blog. A princípio, confesso que não me animei não porque para quem entendeu a série, ela não é muito para ser explicada ou elaborada. Um sentido a posteriori, de teorias criadas por um expectador tiraria exatamente a grandeza da obra. Mas isso não tira a possibilidade de que eu possa escrever, algumas sensações e detalhes marcantes que fazem para mim The OA se tornar uma excelente série.

Para quem só ouviu falar da série e deseja conhecer mais, algumas coisas são importantes. Primeiramente, todos os episódios já produzidos estão no Netflix. Existe a previsão de uma segunda temporada, porém o ciclo realmente se fecha no primeira temporada, então não há a preocupação de ficar preso a uma série gigantesca. São oito (8) episódios de, em média 40/60 minutos, então caso você fique preso a série, isso não durará mais de dois dias. O lançamento da série foi no dia 16 de Dezembro, isso é, as pessoas ainda estão descobrindo The OA e não tem tanto spoiler espalhado por ai.

A história inicial é basicamente um casal (Abel e Nancy) que reencontra sua filha (Prairie) no hospital após sete anos em que ela esteve desaparecida. Porém, eles entram em choque quando percebem que a filha que antes era cega agora está enxergando. Isso cria um alvoroço no bairro que eles moram e faz nascer uma pergunta na boca de todos: como é que ela voltou a enxergar?

A forma de que é desenvolvida essa forma de como voltou a enxergar é que, de fato, cativa o público para a série. Passando pelo bizarro, pelo drama, pela ficção cientifica, a máfia russa, a ciência, a loucura e a mística é que chega a verdadeira questão do The OA. Prairie conta a sua história para cinco “pessoas fortes” que a princípio são tudo menos pessoas prováveis, mas que aos poucos vão criando vínculos e nós, expectadores acabamos ouvindo e sentindo como se fossemos um deles. A série é um convite para ouvir o improvável, o acolher e se deixar levar por ele.

Se você gostou, por exemplo, de As Aventuras de Pi, com certeza você ficará apaixonado por The OA. Não sei se é a melhor série que já vi, porém ela te prende, te leva num fluxo e, quando você vê ela te traz questões bastante complexas. Mais do que isso seria expor alguns dos suspenses da história.

A partir de agora farei comentários com spoiler, logo se você ainda não viu a série, fique por aqui e leia o resto assim que terminar de assistir.

A série é dividida em duas histórias paralelas: a que a Prairie conta na casa abandonada e a que acontece pelo bairro.  O local em si é muito pacato e nada acontece de realmente importante naquele espaço. O que torna vívida aquela sociedade é a presença de pessoas importantes como os pais da Prairie que foram trabalhados de uma forma bastante bem feita e isso os torna personagens centrais na história. Fora que as atuações deles foram excelentes. É claro, poderia ter mais detalhes, mas talvez seja mais uma curiosidade de psicóloga do que propriamente da série. Fiquei muito intrigada para saber o diagnóstico que ela possuía e, de fato, se o medicamento fez algum efeito.  Além disso, se ela tinha sociabilização, possuía amigos ou já demonstrava ideias fantásticas acordada. Coisa de psicólogo.

Temos, além deles, esses cinco personagens marcantes que, a cada episódio, são expressas um pouco de cada vida. Porém, apesar de possuir essa divisão, soa como que alguns personagens (como a BBA, o Winchell e o Alfonso) são mais importantes e complexificados que outros (como o Jesse e o Buck Vu). Isso realmente não possui muita lógica. Apesar da BBA e o Winchell tiverem um sentido muito claro para a criação do grupo, porque esse foco no Alfonso? Claro, a história dele é interessantíssima mas não se explica. Mesmo com aquela última cena de que ele se perceberia como o Homer. Me soou muito mais com uma identificação com aquele personagem do que por outro motivo.

Quanto a história da Prairie, começamos com um corte muito brusco com a narrativa que estava desencadeando, de forma que o primeiro episódio parece meio quebrado se não for encadeado logo com o segundo. Essa entrada de sua história a partir do improvável pode ser amável e odiável porque te pega preparado ou não. Eu particularmente senti dificuldade com o início da história porque estava muito próximo de um delírio de grandeza com um leve traço persecutório e isso me deixou bastante desconfiada de que a Prairie estava realmente surtada. Tem coisa mais clichê persecutório do que máfia russa? Meu lado psicólogo apitou muito.

Porém, é impossível não lembrar daquela cena com a Khatun acolhendo a menina, na época chamada Nina, na morte. Fiquei bastante interessada em procurar saber se realmente existe essa divindade, porém pelo que encontrei é um aglomerado de diversas mitologias. Aqui surge um outro divisor de águas que seria aonde ela encontrou a explicações de suas visões e de ter ficado cega. Se foi uma experiência mística, se foi uma explicação que ela criou, pouco importa.

Após essa grande experiência fantástica, ela vai ser adotada nos Estados Unidos, tem várias outras premonições (mesmo usando medicamento psiquiátrico) e só vai ter um outro grande momento quando ela está grande e tem aquela gigantesca frustração de não encontrar o pai na Estátua da Liberdade. Aliás, essa premonição não se resolveu e ficou um pouco por isso mesmo. Depois que ela encontrou o Hap, esqueceu do pai completamente.

O encontro com o Hap foi outra situação impossível de ser esquecida aqui porque foi um fator de muita desconfiança para mim – não sei quanto para vocês. Médico galã cientista e psicopata? Isso é muito coisa que se cria na cabeça.

Então começa a saga dentro da casa, aonde ele a sequestra e conhece os outros personagens que, junto com ela, vão começar a criar planos para escapar. De uma forma bastante similar aos personagens do bairro, você logo percebe que os cativos não são retratados da mesma maneira tanto que, mais a frente quando se recebe os movimentos, são apenas retratados o primeiro, segundo e o quinto. Tudo parece super focado na Prairie e no Homer que até havia esquecido o nome dos outros personagens (o Scott, a Renata e, posteriormente, a Rachel).

A segunda morte da Prairie também me foi muito estranha porque ela fez todo aquele esforço para reencontrar o pai e depois de o achar decide voltar, agora com o primeiro movimento. Essa parte fica bastante confusa, especialmente esse título de Anjo Original que ela recebe e toda essa questão deles serem anjos.

Apesar disso, os movimentos e todo o recebimento deles é muito bonito. Pena não sabermos quais animais correspondem ao terceiro e quarto. O encontro de cada um dos animais carrega uma beleza, um simbolismo, uma magia que, combinado com os gestos dá brilho a esse momento da série que teria tudo para ser bem duro e sombrio. A entrega do movimento pela esposa do Xerife foi ótima.

No fim do cativeiro, tem o abandono na Prairie e Hap ameaça que irá abrir o portal com os outros. Sinceramente, também foi um momento meio falho porque, afinal, não precisava ter cinco pessoas para fazer no mesmo sentimento? E se eles se negassem a abrir o portal, de qualquer modo, Hap não iria os matar.

Em paralelo a todo esse relato, tem o FBI, tem o psicólogo – se confiável ou não, outro debate – que acolhe o relato da Prairie e a jornalista que quer publicar a história. Quanto a eles, em si, fica um lugar meio silencioso a qual soam como só estivessem recolhendo a história a partir do psicólogo.  Comentarei isso mais a frente.

E, por fim, o grupo selecionado por Prairie é encontrado na hora que ela está com uma faca na mão e são dispersos. Chega, então, o último momento do The OA, que também é um tanto clichê – afinal, nos Estados Unidos sempre tem alguém atirando nas escolas. Kevin, é você?

Porém, é maravilhoso quando eles se levantam e fazem os movimentos. Agregada a morte da Prairie, o sentido de que eles abriram o portal para outra dimensão se torna ainda mais forte. E são graças a esses pequenos momentos em que tudo parece fazer sentido é que a série consegue se sustentar. A última cena a qual Prairie diz o nome do Homer, reforça ainda mais que ela teria, de fato, o encontrado na outra dimensão. Achei o final sensancional. Flerta um pouco com a eficácia simbólica do Lévi-Strauss.

Isso significa que o que ela falou é verdade ou mentira? Está mais para uma pós-verdade, talvez. A experiência pessoal dela e daqueles que receberam a história é mais importante do que a reprodução cientifica dos fatos.

Além dessa pergunta, várias outras surgiram pela internet e um tanto de teorias que valem a pena o comentário. Segue algumas:

Os cinco amigos do bairro seriam os mesmos do cativeiro em outra dimensão? Isso explicaria porque o Alfonso viu o Homer no espelho. Enfim... Acho um pouco demais, não?

Os livros foram implantados na casa da OA pelo psicólogo do FBI quando Alfonso chegou? Vale comentar que acho a cena dos livros sensacional também! Pois ela fala sobre confrontação de crenças e como lidar quando chega a dúvida. E a resposta, no caso deles, foi incrível: independente se for dela ou não, nesse momento precisamos que os movimentos funcionem. É isso. E se for do FBI? Muda algo?

A Rachel é uma agente da FBI? Acho que essa é a melhor teoria! Afinal, porque todos os quatro receberam movimentos e ela não? Será que ela se deixou ser cativa para investigar o Hap. Outra questão ou apenas um furo da série.

Já há uma especulação para outra temporada que, particularmente, deve seguir por esses rumos que foram deixados em aberto. Logo, o FBI deve fazer muita coisa, pois nessa primeira temporada apareceu muito esporadicamente. E se saberá – ou não – o que aconteceu com Homer, com o Hap e com a própria Prairie.


E vocês, o que acharam?    

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