Sobre a Teologia [parte 2] – Um curso curioso.
Como apresentei no texto passado,
eu achava que Teologia seria um antro de pessoas jovens e alternativas que
gostavam de estudar a fé cristã. Pensava também que eu iria fazer vários amigos
daquele jeito que eu conhecia na internet que pensavam uma nova forma de ser
igreja. Eu estava completamente errada.
Primeiramente a minha turma, que
tinha cinquenta pessoas, tinha menos de dez na faixa dos vinte anos. Eu, na
época, era a mais nova, de 18 anos. A turma se dividia em praticamente dois
grandes grupos: aqueles que, mais velhos, decidiram estudar Teologia porque
gostam ou aqueles, os mais novos, que vão ser pastores. Nunca consegui ser
próxima dos seminaristas, principalmente porque eles não tinham interesse
nenhum em aprender Teologia. Isso me deixava bastante irritada.
De um lado havia os adultos, com
filhos, falando de suas esposas e seus trabalhos, noutro um bando de jovem sem
cabeça que tinha pai/tio/contato pastor e que já estava ganho na vida. Só
faltava o diploma. Assim, eu tive muita dificuldade de me enturmar. Chegava
quieta e saia quieta durante os três anos e meio de Teologia que eu fiz. [Já
explico porque fiz em três anos e meio e não quatro]
Quanto ao curso, entrei em 2011.1
e estava animadíssima. Comecei antes do que a Psicologia, então era minha
primeira experiência como universitária. A sala estava lotada e, logo no
primeiro dia de aula, tivemos uma recepção com um culto, fomos recebidos pelos
professores. Lembro-me que um deles, que era coordenador, no primeiro dia já
soltou que a história de Adão e Eva não deveria ser entendida literalmente,
como tivessem existido. Nossa! Para mim, aquilo foi incrível porque fez todo
sentido com o que eu já pensava, mas não falava para ninguém. Cresci numa
igreja que a Bíblia era a única regra de fé e de prática, palavra de Deus,
correta até na gramática. Eu sabia que tinha algo de errado nisso tudo, mas era
incapaz de argumentar. Aos poucos se foi clareando quando fomos apresentados ao
método histórico-crítico e a Teologia Liberal.
Porém, mesmo achando interessante
essas novas formas de ver a fé tive meus momentos de escândalo. Exemplo ocorreu
na palestra que houve na época das enchentes na Região Serrana do Rio de
Janeiro. Um professor, que dava matérias de Hebraico e Antigo Testamento, foi
falar um pouco sobre o ocorrido ao olhar da Teologia. Este dissertou que Deus
não explica as coisas que faz, que é mistério, que explicações milagrosas não
resolvem o sofrimento que o povo vive naquele momento.
Ora, fiquei boladíssima. Lembro-me
dizendo para mim mesma: Esse homem não
pode ser cristão de verdade. Deus é muito claro: as desgraças acontecem porque
os seres humanos pecam. Fiquei chocada, escandalizada e eu não aguentava
ver o rosto desse professor em sala de aula. Para piorar a situação, ele era o
professor mais novo da faculdade, entrou na Teologia com 19 anos e era uma
pessoa que eu deveria me inspirar. Professor
universitário, menos de 40 anos, com doutorado. Quero ser assim. Mas eu era
incapaz de pensar isso porque eu estava escandalizada.
Os escândalos na faculdade eram
tantos que eu escondi minha Bíblia no meu primeiro semestre de Teologia.
Guardei bem guardado porque eu me sentia traída por aquele texto que não era
nada do que haviam me ensinado. Tinha raiva da Bíblia, apesar de orar e ter meu
relacionamento com Deus normalmente. Não levava nem para a igreja e, quando
tinha que abrir lá, eu evitava. Fingia que não ouvia. Foram seis meses assim.
Porém, como eu tinha certa maturidade na minha fé, passou. Hoje estou
tranquilíssima lendo a Bíblia, todavia com outros olhos.
Outra questão que eu possuía na
faculdade de Teologia era sobre igreja. Sempre que me perguntavam de qual
igreja era, não queria responder. Não, obrigada. Não me identificava com ela,
queria pensar um novo tipo de igreja. Porém, às vezes eu era obrigada e tinha
que responder: sou presbiteriana, mas... E
quando eu explicava o porquê eu não acreditava na igreja institucional vinham
um mundo de seminaristas, presbíteros e obreiros reclamando comigo, falando mal
da igreja orgânica. Perdi muitas vezes a paciência. Principalmente nas aulas de
Eclesiologia.
Perdia muito a paciência com
seminaristas e todos aqueles que quase todo dia me perguntavam se eu seria
pastora. Diziam que eu estava negando um chamado, que eu seria de fato. Ou,
também diziam, que eu seria esposa de pastor. Um absurdo ilógico. Eu faço o
seminário e o homem que será o pastor? Enfim. Deus veio em meu favor me
apresentando um homem que não quer de modo algum ser pastor.
Depois desse aquecer todo, fui me
adentrando ao que, de fato, era o estudo de Teologia. O que é ser Teólogo? O
que vou estudar? Como é estagiar nisso? Contarei um pouco mais na próxima
postagem.
[CONTINUA]
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