Dispersos, porém potentes




Quando a páscoa estava se aproximando, me veio a memória o cuidado de Jesus para seus discípulos antes do pior acontecer. Nessa época eu tive uma oportunidade de falar na igreja e falei sobre isso. Logo depois, eu fiquei reflexiva sobre Pedro e os discípulos quando a morte de Cristo estava de fato acontecendo. Como lidar com os sentimentos? O que fazer? E eu tive uma oportunidade e preguei sobre isso.


Recentemente me vem a mente outro momento da história dos discípulos. Eles já sabiam que Jesus tinha ressuscitado e havia ido para os céus. O primeiro baque parece ter passado e vem outras perguntas: ficamos juntos ou nos separamos? Precisamos de mais um discípulo para fazer os 12? Vem outras respostas também, que fazem com que, mesmo em um momento de dispersão e confusão, a igreja crescesse cada dia mais forte. 


·         A igreja dependia do Espírito Santo


Jesus foi claro para a igreja de que eles deveriam esperar o Espírito Santo. É muito bonito porque, por mais que todos tivessem convivido com Cristo, visto a morte e a ressurreição, o Espírito Santo seria aquele que iria dar a força para os dias da dispersão (At. 1.8). Essa força foi apresentada por dons (At.2.4), milagres (2.43), mas lutas (4.3), mas em simpatia, amor e graça (2.47; At.4.33).

No antigo testamento vemos Espírito Santo como Ruah, uma palavra feminina que aparece como vento, espírito de vida, que caminha com os profetas, com Abraão e aqueles que, em luta, em solidão e em momentos difíceis, conseguiram tirar força na dor. No novo testamento vemos já outro nome, Paracletos, que vem para aqueles que clamam por eles – todos – e que ajuda como um advogado, um amigo nas horas difíceis. Por isso eu acho tão linda e razoável – apesar de imprecisa – a palavra Consolador. Jesus sabia que seria duro então era absolutamente necessário o consolo. O quanto temos precisado do consolo! Antes de querermos agir, sermos fortes para cuidar do outro, lutar e viver em amor, precisamos ser consolados.


·         A igreja estava sempre orando


Isso é algo que sempre me faz pensar. A gente tem uma concepção muito errônea de que se ora pela falta de algo: de saúde, paz, alegria, e quando alcançamos isso, parece que não tem muito motivo mais para orar.

Na Bíblia é diferente. Não há momento de não oração. Jesus já tinha avisado que o Espírito Santo ia vir, estando no lugar certo e na hora certa. Mesmo assim, eles oravam (At.1.14). Homens, mulheres, na certeza, na dúvida. Após batizar 3 mil pessoas e estarem na mira dos sacerdotes, Pedro e João vão ao templo orar (3.1) e, mesmo sendo eles presos, a igreja não esperou os “líderes” voltarem para fazer alguma coisa, mas oraram (4.31).

Que potência! O poder da oração sem cessar, em todas as situações era crucial para a igreja.


·         A igreja cuidava do que estava aprendendo


Uma coisa que me chama a atenção é de que não aparece que eles perseveravam nas Escrituras, mas na doutrina dos apóstolos (At. 2.42). Isso é muito interessante porque naquele momento era crucial se prender no fundamental: Jesus veio e ressuscitou. Não era hora de grandes elaborações teológicas, de coisas que poderiam os separar. O momento era de anúncio e de uma forma muito bela – a partir da experiência (At.2.14). Isso é muito forte porque em um momento sensível, de dor, não faz sentido ensinarmos e falarmos sobre coisas que não afetam diretamente nossas lutas do cotidiano (At.4.33)

·         A igreja se esforçava para ter comunhão.


E o aprendizado sensível, pé no chão está relacionado claramente a comunhão. Uma palavra que aparece com frequência no início de Atos é “unânimes” (At.1.14; At.2.46, 4.24). Apesar de vermos a palavra “juntos” nesse período bíblico, unânimes aparece mais e com mais força. Isso é, o esforço de comunhão não era de presença, mas de cuidado financeiro (At.2.45 e 4.34 e35), às vezes físico (At 2.44), mas principalmente espiritual (At 4.32). Pensando que logo nos primeiros capítulos, 3 mil pessoas se converteram, seria muito improvável que todos estivessem sempre juntos. Após isso, vemos Filipe viajando para ver o Etiope, Pedro, Paulo, Barnabé, mas era sempre necessário ter cartas, trocas e unanimidade.

A partir do exemplo da igreja, a distância não necessariamente tira essas características de nós, mas potencializa.   



Que esse seja um momento de nos enchermos do Espírito Santo

Que possamos orar sem cessar.

Que nossos pensamentos, palavras e ações sejam ações que realmente sejam implicadas na vida

E que nunca estejamos só.

Amém

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