Relatos sobre já viver a igreja do futuro.
Somente existem dois tipos de
igrejas: a do passado e a do futuro. Não existe a do presente.
Engana quem aponta a linha
temporal como um presente que olha para o passado ou que aponta para o futuro.
Isso pode até existir em lugares que olhem para o próprio solo, que sabem aonde
estão inseridos.
E de modo algum a igreja cabe
nesse modelo. Mesmo a igreja que sente o cheiro da terra molhada, que vislumbra
detalhes de suas minhocas, não passa de um ser flutuante que, de modo algum
encosta no chão. Ela é supra temporal. Se encontra no buraco onde o tempo é
passado e futuro junto, onde eternidade sempre existiu e onde o início varia de
onde você enxerga. O futuro já pode ter passado e até por isso, possa não valer
a pena olhar para ele.
Mas o que importa é: existem duas
igrejas, a do passado e a do futuro.
E você saberá quando estiver em
uma delas. O cristão que está na igreja do passado sabe os entraves limitadores
que ocorrem quando se escolhe essa narrativa: uma hierarquia mais fechada,
templos antigos, histórias de famílias que se enraizaram na igreja, etc.
Histórias estas já conhecemos aos montes e relatos de alegria e lutas dentro
dessa instituição voltada para o passado, para sua moralidade, mas também para
sua ancestralidade. Os erros são previsíveis, assim como as vantagens.
Ora, é
previsível abuso de poder numa hierarquia pouco democrática. E é previsível a
possibilidade de ter dinheiro para a construção de uma escola, já que é uma
instituição antiga, estável e com uma rentabilidade real. A escolha perante as
duas partes da balança são dos membros, já que mesmos os líderes não possuem a
palavra final na escolha religiosa.
Porém, quando estamos na igreja
do futuro, também sabemos que estamos em algo diferente. Algo sem relato, sem
críticas e sem sugestões. É experimental, confuso, angustiante, porém potente
como fogos de artifício. É explosivo e belo, que pode a certa altura iluminar a
cidade, mas também matar um animal. A intensidade linda que a liberdade
espiritual a partir do futuro te dá renova as forças, constroem esperanças e
rotas de fuga em dias tão sombrios. Sendo assim, não vou mentir, a igreja do
futuro é o que me tira o sorriso do rosto desde que entramos em 2019. A beleza
da brincadeira de um bebê que não sabe falar, mas faz um espetáculo
esplendoroso de vida, vigor, risada e pureza espiritual é o que inspira soltar
a mão da confiança acerca da igreja do passado. É lindo se arriscar em um
espaço de amor, companheirismo e resistência.
Contudo, se hoje eu pensei em me
jogar da janela da sala de oração por mesmo que seja cinco minutos é porque as
consequências da liberdade são mais cruéis e profundas do que, simplesmente,
ter um líder que fala algo contra ti. No caso da igreja do futuro, a dor vai
dentro de sua carne, de onde você é, do que você se tornou graças a aquela
comunidade e do que olham para você e dizem e – pasmem! – nessa igreja importa
o que o outro pensa.
É terrível, porque a igreja do
futuro tem amor, abraços, risadas e comidas. Porém, assim que você sente sua
queda dentro dessa comunidade acabou qualquer possibilidade de procurar outra
igreja, de crer que Deus está cuidando ou mesmo da achar uma terapia. Você não
levanta a poeira e procura outra igreja. Você se rompe ao meio, sente a falta
de verdade das pessoas e, quando vê, até sonha com cada um.
Eu venho do futuro e aviso: vale
a pena pelo risco. O envolvimento de nossa carne é evidente e muito bem vinda.
Então, por mais duro que seja o futuro, o futuro já é fé, esperança e amor.
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