As muitas formas do amor e do sexo cristão
Tem coisas que nós não
conseguimos fugir, não é mesmo?
Algumas coisas estão encravadas
em nós, se sedimentaram.
Por mais que tentemos esquivar,
mudar de igreja, de teologia, está ali.
Uma dessas coisas é a nossa
construção social sobre o amor e sobre o sexo. Esse é um dos temas melhores
socializados nas igrejas, engajados em quase todos os sermões e formas sociais.
E, sendo nós pessoas criadas nessas instituições, estamos fadados a nos
encontrarmos os mesmos embates de novo e de novo. Sofrer novamente, aprender
novamente.
Sempre assustados de ver que as
dificuldades sexuais das igrejas serão também nossas dificuldades sexuais. Como
filhos que descobrem estar fazendo a mesma coisa que os pais.
Nós, por exemplo, não temos muita
familiaridade com o tema da diversidade, no caráter mais amplo de que esse
termo pode ter.
Somos de uma fé que veio,
“teoricamente”, de um só povo que cria somente em um Deus. Esse Deus produziu
um único caminho que veio através de um messias, que tem como objetivo criar a
igreja, única e separada. A igreja também tem suas características bastante
restritas, como uma única forma de masculinidade, feminilidade, pastorado,
hierarquia, tudo bem definido no que chamamos de Bíblia, tratada pelos
reformados como única regra de fé e
de prática. Tudo que esteja fora dessa grande estrutura se resume a uma palavra
conhecida por todos nós como pecado.
Logo, falar de pluralidade é
falar de pecado, para muitos de nós.
Isso se torna especialmente real
quando falamos do amor sexual. Todas as pessoas que nasceram no cristianismo ou
se converteram numa idade ainda jovem sabem, de cor, qual é o “propósito de
Deus para a sexualidade humana”. É uma formula só, muito simples, que demonstra
o único caminho pelo qual o Eros pode
se manifestar.
Casal heterossexual, onde o homem
é mais velho que a mulher, se casam entre seus 18 a 30 anos. É dever deles
serem virgens antes do casamento e, durante a vida a dois, manterem uma relação
sexual constante. Nos cinco próximos
anos do matrimônio, eles devem engravidar, até no máximo três filhos, sendo o
ideal dois, no mínimo um. Eles serão
monogâmicos, o homem receberá mais que a mulher, sendo que esta tem seus
deveres domésticos a manter. Todos devem estar envolvidos numa igreja
evangélica, principalmente no ministério de casais. O casamento, também, deve
ser feito entre pessoas de classe sociais parecidas ou se forem díspares, a qual
o homem sustente a mulher.
Antes do casamento, o sexo é
absolutamente proibido, mesmo sem penetração. A masturbação e o uso de
pornografia são incorretos, pois valorizam a sexualidade solitária, condenada
por Deus. No casamento, o sexo se torna liberado dentro de algumas restrições.
O sexo deve ser sempre entre os dois, vaginal, com algumas raras exceções para
o sexo oral. Anal, jamais. Quem escolhe a freqüência sexual é o marido, que
pode ter maior flexibilidade na fidelidade que a mulher. Desse modo, a mulher
deve investir, sempre, em se cuidar para não deixar espaço para que o marido
procure em outros lugares.
Esse credo religioso é recitado
inconscientemente todo domingo na comunidade de fé seja católica ou evangélica.
E, sendo nós criados nesse meio, ele já criou raiz, nem precisamos mais que o
pastor nos chame no gabinete. Já sabemos disso e isso estará em nós em nossas
relações amorosas e sexuais.
Que a gente saiba pensar em
outras formas de amor.
Deus nos abençoe.
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