O Deus de 2017




Teologar significa, literalmente, falar sobre Deus (Theo/Logos). E, desse Deus, eu preciso falar muito sobre.

Este Deus que diz haja luz e houve luz. Esse Deus que cria os pequenos e belos animais que contamos para as crianças. A ovelha, o leãozinho, o cachorrinho, mas também a barata, o mosquito da dengue, o escorpião, a serpente que fez toda a humanidade cair. Se ele ama tanto as pessoas, por quê ele faria isso?
Deus que pede a Abraão para matar seu filho apenas para testar. O mesmo Deus que devolve seu filho, deixa a filha de Jefté ser morta por uma aposta que seu pai fez. E mata todos os filhos de Jó, por uma aposta de Deus com o diabo. Este aparece na brisa, na tempestade, na fé do grão de mostarda, nas manifestações do apocalipse, na misercordia de um pastor e na ira do Senhor dos Exércitos.

O que faz a bancada evangélica apoiar o trabalho escravo e que faz o movimento de feministas cristãs lutarem pelos direitos trabalhistas. O que apoia a PEC 181/15 da criminalização do aborto em qualquer caso e que anda ao lado das Católicas pelo Direito de Decidir na luta pela vida das mulheres. É o Deus das mulheres de saias longas, sem maquiagem, do cabelo preso e da língua solta no Espírito. É o Deus dos crentes modernos, com tatuagem, que estudam o calvinismo e reinvindicam superioridade teológica. O mesmo Deus está com as Comunidades Eclesiais de base e com os movimentos progressistas cristãos. O mesmo Deus da Sarah Sheeva.

Em 2017 descobri que Deus está muito longe de ser previsível e que por trás do Deus amoroso, cheio de paz e acolhimento, estava ainda aquele Deus da ira, que pede uma ética e uma experiência de submissão a ele. Ele é, ao mesmo tempo, tudo que podemos imaginar e tudo o que sequer podemos ter ideia. E, independente do que falarmos, estaremos errados e limitados.

O Deus de 2017 me fez redescobrir o significado de igreja, de amor, de cuidado e de dependência. Coisas que eu acreditava ter bem estabelecido dentro da vontade Dele.
Afinal, se Deus é amor e valoriza a família, porquê me tirou de um relacionamento que há 5 anos fazia devocional e trabalhavam para Ele?
Se o corpo é o templo do espírito santo e a adoração é pessoal, por quê me chamou para construir uma igreja, coisa esta que sempre cri ser gasto desnecessario espiritualmente?
Se Deus é nosso cuidador, por quê precisamos tanto de profissionais e de pessoas ao nosso redor para ficar bem?
Por que nossa vida fica tão devastada se não formos fieis espiritualmente se Ele prometeu estar sempre conosco?

Não entendo muitas coisas e esse é o Deus de 2017.
Ambíguo, maravilhoso e terrível.
E eu sou muito grata.

Comentários

  1. Oi Rebecca!

    Encontrei o seu blog por acaso, li alguns dos seus textos e fiquei realmente impactado.
    Algo me chamou muito a atenção, acredito que seja a sinceridade na descrição dos teus pensamentos, traduzindo o que vivemos no dia a dia tanto na relação com as pessoas quanto na relação com Deus.
    Estou comentando (nessa publicação em especial pois foi uma das que mais me impressionou pelo teu jeito de tratar e ver Deus atualmente) para te dar os parabéns e desejar tudo de bom em 2018.
    Obrigado pelas várias “explosões de mente” que você me causou hahaha.

    Abraço,
    Roben.

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