Psicologia e Religião

Segue um breve texto que divulguei na plataforma Fala Psi (https://www.facebook.com/falapsioficial/?fref=ts) acerca de Psicologia e Religião



No Brasil hoje, segundo o censo do IBGE de 2010, há aproximadamente 92% de pessoas religiosas e não é estranho que esse assunto surja, também, nos consultórios de Psicologia. Tanto o paciente como os psicólogos são atravessados pelas suas crenças e descrenças que o compõem como seres no mundo e isso é absolutamente normal. É assegurada por lei a liberdade religiosa no Brasil, no artigo 5 inciso VI da Constituição Federal de 1988, a todas as pessoas e também que nenhum profissional pode ser proibido de exercer uma profissão devido a sua espiritualidade.
Todavia, a forma que a espiritualidade se encontra no consultório nem sempre é posta de forma ética. O código de ética do psicólogo é expressamente claro, no artigo 2º tópico b, ao dizer que é vedado ao psicólogo induzir a convicções religiosas durante o exercício profissional, da mesma forma que é impedido o proselitismo político, de orientação sexual, ideológico ou filosófico durante o seu trabalho. Assim, práticas de vidas passadas, conversão religiosa, uso de Tarot e outros elementos religiosos não podem ser usados na prática profissional. O Conselho Federal de Psicologia entende que, apesar do psicólogo poder fazer uso dessas coisas fora de seu trabalho, não o deve na sua prática terapêutica, pois afetaria o caráter laico que a Psicologia possui.
Para defender o paciente de práticas que não são verdadeiramente da Psicologia, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) também não aprova a existência de cursos de Psicoteologia, de Psicologia Cristã e outros títulos tão comuns de vermos divulgados. Outro órgão importante para nossa profissão, a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), há anos organiza o que é ensinado dentro das nossas faculdades e sempre reafirma um currículo laico. Desse modo, não há base sequer nas faculdades de Psicologia, reconhecidas pelo MEC, orientadas pelo CFP e pela ABEP, o ensino de Psicoteologia, de Psicologia Cristã ou outras do gênero.
Isso não impede, de modo algum, o uso de um aparato teórico da psicologia a fim de se estudar o ser humano em sua relação com a religião. Também não impede que o psicólogo escolha, dentre as linhas teóricas laicas da psicologia, uma que faça mais sentido com aquilo que acredita espiritualmente. O que não pode ocorrer é um terapeuta usar de base religiosa, não reconhecida pelos órgãos citados da profissão, e utilizar num consultório como se fosse psicologia.
Desse modo, se você encontrar cursos que usam livros de fé como base, nomes que misturam religião e psicologia: Fique esperto! O Código de Ética da nossa profissão está sendo desrespeitado e, provavelmente, pode desrespeitar você na clínica. Caso você possua alguma questão de ordem espiritual, procure o líder de sua religião para que possa lhe dar suporte. No caso do Psicólogo, este deve usar as ferramentas de sua profissão para o trabalho – que são muitas! Um bom psicólogo saberá respeitar sua expressão religiosa e, ao mesmo tempo, conhecer seu limite ético dado pelo CFP.

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