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Mostrando postagens de dezembro, 2017

O mito da conversão (Em blogs parceiros - Parte II)

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    Por que nós vemos tanta igreja por ai? Por que achamos importantes as igrejas? Algumas comunidades, – já digo, pode ser neopentecostal ou não – baseadas na Teologia da Prosperidade e antropocentradas, são construídas na busca de poder político e sobre os corpos da nossa comunidade. Porém, a maioria das igrejas que conhecemos, aquelas pequeninas que foram criadas na garagem do seu vizinho que fala muito bem, por mais que acabem exercendo poder sobre as pessoas, não tem esse objetivo primeiro. O seu Manuel, que durante a semana faz pão e domingo vai pregar, tem um desejo muito legítimo e sincero de que as pessoas se convertam. Ele pode até pedir para a mulher deixar de usar calça, mas é porque ele ama e deseja profundamente salvar sua alma. Da mesma forma, quando um missionário vai para uma tribo e sugere que os membros deixem práticas da cultura, não é porque ele quer destruir uma cultura. É porque, na cabeça dele, ele prefere um índio sem cultura no céu do q...

Suspiros (Pequenas Reflexões - Parte IV)

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*suspiro* 🍃 Ei - disse Deus - você consegue agora perceber que eu estou aqui? Guardo pequenas memórias que compõem o sentido de ter uma fé. Como qualquer relação, essa teia de vivências vai compondo o quadro de complexidade e forma uma boa rede sólida aonde dá para deitar. Tendo a rede estavel, mais você poderá balançar, para lá e para cá, sentir o vento no rosto, circular em suas maiores possibilidades. Sentar, ler, trazer gente para dentro. Coisas que você talvez nunca imaginou possível. Mas teça sua rede com calma, guarde os retratos daquelas boas lembranças. A angústia nos leva ao caminho contrário, o caminho do esquecimento, do apagamento da experiência. Não se deixe levar por ela. Ela não vale o valor que damos. Porque a Sua ira dura só um momento; no Seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Salmos 30:5 A aliança está aqui, logo a sua frente. Guarde com carinho. 17 de agosto de 2017   Esper...

E recebereis poder (Pequenas Reflexões - Parte III)

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E recebereis poder... Poder! Quem o deseja? Quem deve o ter na mão?  Existem duas formas de receber o poder: através da forma legítima, a qual uma pessoa precisa deste direito e capacidade para sobreviver e aquela que rouba desta pessoa. Fora dessas formas, não tem como ter poder, pelo menos da parte de Deus. Ele jamais concede poder para os sãos, pois a sabedoria de Deus é feita para confundir, para os loucos, doentes, para a margem, aos pequeninos.  E recebereis poder... A gente só entende a necessidade real e espiritual de poder quando estamos em vulnerabilidade. A coragem para tocar nas vestes de Jesus só dá pela extrema fragilidade daquela pessoa. Quando somos fracos, aí somos fortes. E irá descer o espírito, em grego paracletos que significa o que vem para quem o chama. Mas chamar mesmo, clamar, como os discípulos perseguidos, confusos com a situação de Jesus que ascendeu. A instabilidade nos convoca a querer poder, poder real, pod...

As mulheres do início do presbiterianismo brasileiro: o caso de Elizabeth Simonton (Em blogs parceiros - Parte I)

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Quando contamos a história da reforma protestante, nós comumente temos um caminho bastante simplório. Primeiramente, estudamos a reforma protestante como algo que somente ocorreu a partir de 31 de outubro de 1517, quando Lutero colocou na catedral de Wittenberg as 95 teses. A partir desse ponto, estudamos os teólogos (leia-se no masculino) europeus que encabeçaram este novo momento da cristandade. Apesar de ser um tema importantíssimo de pesquisa, acredito que esse material já possui bastante olhares. O tema da Reforma protestante é muito mais amplo do que isso. Houveram pré-reformadores antes dessa história se marcar nessa data e muitas águas rolaram até que hoje você, leitor, se considere protestante ou, sendo mais honesto, evangélico. E algumas dessas contribuições esquecidas da Reforma Protestante são vindas de mulheres. Algumas de nós, maioria também mulheres, estamos na luta para buscar a história perdida destas grandes personagens históricas, como a própria Catarina...

Deus me confunde (Pequenas reflexões - Parte II)

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Eu me lembro da primeira vez que vi uma Pitanga. Eu devia ter uns 9 anos e estava num clube, divertindo com a família e eu vejo uma árvore pequena que tinha pequenos frutos laranjas - uma das minhas cores favoritas. É Pitanga. - Meu pai me revelou e aquela lembrança não esqueci. Parecia uma abóbora, mas tão pequenininha. Quero que ande comigo! Este ano, sentada com uma florista, escolhia o buquê de noiva para meu possível casamento de novembro, a qual est ava tudo preparado. Uma das cores seria laranja e, de todas as frutas que teriam na festa, eu queria pitanga no buquê, entrando de branco carregando uma floresta viva, como eu me sentia na época. Ela era eu. Outubro passo pela universidade e vejo pitangas pelo chão. Um pé cheio, farto e belo. Mas eu não sou mais criança, nem sou mais noiva. Os sonhos dessas duas épocas foram frustrados e eu mesma não sou a mesma. A árvore deveria estar murcha, azeda, como sinal de retraimento. Mas tomei a fruta na mão e experiment...

Dia do teólogo (Pequenas reflexões - Parte I)

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Sempre me esqueço e sou lembrada do dia de hoje, dia da teóloga.  Dia este que cada ano sei menos o que é.   Afinal, encontrei esse grafitti na rua nesses dias e me respondi que talvez o maior papel da teóloga seja a escuta, a escuta de silêncios, de lugares improváveis, de lugares que não são nossos. Nós falamos na psicologia que a grande diferença entre uma escuta do bar e a escuta psicológica é porque nosso arcabouço nos faz perceber e pontuar coisas que a própria pessoa traz, sendo bem longe do que muitas vezes chamamos de aconselhamento. Não temos uma fórmula de solução para as pessoas. Temos ciência e conhecimento e aplicamos ao que ouvimos. E suspeito que o trabalho da pessoa que ama a teologia é esse. Nos termos da teologia da libertação "ver, julgar e agir". Mas acho que só ver não é suficiente. Talvez nem só ouvir seja suficiente, porém ouvir olhando para nosso arcabouço nos faz que emerja o que ousadamente poderia ser a Teologia. Não o ...

Eu não sou SUA LOCA! (sobre saúde mental e fé - Parte I)

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[Pintura de Louis Wain durante sua piora no diagnostico de esquizofrenia] No material sobre a história da loucura, em Foucault, temos uma compilação do que teria sido o processo para entendermos o que hoje chamamos de loucura. Bem resumidamente, no que consideramos história antiga, temos relatos de como a loucura era vista como uma forma de manifestação do sobrenatural. Essa manifestação poderia ser positiva, tendo culturas que cultuavam aqueles que eram diferentes. Eram filhos dos deuses, tinham dons e experiências consideradas divinas e incomuns para a maioria dos mortais. Entretanto, muitas culturas – como a judaico-cristã – essa expressão era vista como negativa. Algumas assassinavam as pessoas assim que elas manifestavam sintomas. Em outras, como a que originou nossa cultura, simplesmente viam como algo ruim, negativo e muitas vezes como uma possessão demoníaca. Com o advento da ciência, apesar de mudar o que consideravam como causa, a forma que o ocidente tentou lida...